Quando a música encontra o coração

Uma exposição que revela a singular trajetória de Seu Jorge e Dona Ica na construção de um patrimônio musical que inspira o Brasil e o mundo. O lançamento do Museu homenageia esses patriarcas, celebrando sua história e legado incomparáveis.

Quando a música encontra o coração

Jorge Assad

Quando a música encontra o coração

Angelina Assad

Em 1946, Jorge e Ica Assad iniciaram uma jornada que transformaria para sempre a história de sua família. Unidos pelo amor, pela coragem e por uma fé inabalável no talento dos filhos, esse casal simples, mas visionário, construiu o alicerce de uma verdadeira utopia musical.

A exposição revela momentos íntimos e emocionantes do casal: o esforço incansável de Jorge, relojoeiro e bandolinista autodidata, e de Ica, mãe dedicada e incentivadora. Juntos, transformaram a paixão pelos filhos e pela música em um legado que transcende o familiar.

Mais do que pais, foram os primeiros mestres de uma linhagem de músicos que levaria o nome da família aos palcos do mundo — prova viva de que o amor e a persistência podem criar heranças eternas.

O Casamento

Em 19 de julho de 1947, Jorge Assad casou-se com Angelina Maria de Oliveira, que passou a assinar Angelina Assad. Seguindo as convenções da época, ao terem o primeiro filho, passaram a ser chamados de Seu Jorge e Dona Angelina, ou Dona Ica, apelido que ela recebeu desde a infância. Jorge, aos 22 anos, vestia um terno preto impecável, com os cabelos bem penteados e um bigode marcante. Angelina, aos 16, exibia cabelos encaracolados, um buquê de flores brancas e um olhar ainda refletindo a adolescência.

Ambos traziam uma peculiaridade: eram os únicos músicos natos em suas famílias, apesar de nunca terem recebido qualquer tipo de educação musical formal. Angelina cantou desde quando menina, enquanto Jorge, após ganhar um cavaquinho em uma rifa na adolescência, aprendeu a tocá-lo de forma autodidata. Embora nunca tenham se profissionalizado, a música sempre fez parte de suas vidas, de uma forma ou de outra. Juntos, tiveram quatro filhos: Jorge (apelidado Cito), Sérgio, Odair e Mariângela (conhecida como Badi).

A dedicação à família foi sempre a base da jornada do casal, e quando se casaram não imaginavam que suas vidas mudariam ao descobrirem que os filhos possuíam talento para a música. Apesar das dificuldades financeiras e dos inúmeros desafios, Jorge e Ica lançaram-se em uma verdadeira "missão": profissionalização musical dos filhos. Seus esforços, felizmente, foram recompensados quando Sérgio, Odair e Badi tornaram-se músicos respeitados mundialmente.

Ao longo dessa caminhada, o casal vivenciou o significado verdadeiro de companheirismo, amizade, confiança, lealdade e amor. Juntos, construíram um legado imenso, fundamentado na luta, perseverança e na realização de um sonho.

O Casamento

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A Lua de Mel

A lua de mel de Jorge e Ica aconteceu na praia de Santos, no litoral paulista. Naquele momento, com o mar ao fundo e uma vida inteira pela frente, o futuro parecia resumir-se ao desejo de construir uma família e poder sustentá-la.

Ao lado de Ica, Jorge não sabia que encontraria forças para enfrentar todas as adversidades impostas pela vida. Quando a conheceu, sua profissão era jogador de sinuca. Após o casamento, seguiu como relojoeiro autodidata. Mais tarde, reinventou-se como construtor de casas e, eventualmente, como professor de música. O bandolim, também aprendido de forma autodidata depois do cavaquinho, foi sua companhia constante desde a adolescência, apesar de seu pai — o imigrante libanês Jorge — tê-lo proibido de se aproximar de instrumentos musicais desde menino.

Ica, por sua vez, dedicou sua vida ao marido e aos filhos, fazendo do sonho de Jorge o seu próprio. Para ela, o mais importante era que todos estivessem bem e seguros.

Viveram 65 anos de união, conquistando uma velhice repleta de momentos simples e afetuosos: mãos dadas, rodas de choro onde ele a acompanhava ao violão, pescarias à beira do rio e idas à cozinha para preparar os únicos pratos que aprendeu a fazer em vida — sopa de macarrão e pizza — sempre na tentativa de ajudar. Ele também trazia flores roubadas do quintal do vizinho para presenteá-la e escrevia bilhetes de amor.

Ica sempre soube acolher o impulsivo marido em todas as suas distintas fases, mantendo-se como o alicerce que lhe permitiu sempre arriscar-se.

Ao final de suas vidas, Jorge — falecido em maio de 2011 — e Ica, em agosto de 2024, puderam descansar tranquilos, sabendo que construíram uma história que, emocionante em sua simplicidade, tocou muitas pessoas ao longo de várias gerações.

A Lua de Mel
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Lua de Mel - Image 1
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Cito, o primeiro filho

Após a lua de mel, Jorge e Ica estabeleceram-se na casa da mãe de Ica, Dona Mariquinha. No primeiro ano de casados, em 24 de março de 1948, Ica deu à luz Jorge, apelidado desde o berço de Cito. No entanto, o parto foi complicado: demorou mais do que o esperado, e o bebê, com o cordão umbilical enrolado ao pescoço, precisou ser retirado com fórceps. A falta de oxigenação acabou causando duas lesões cerebrais que resultaram em epilepsia — algo que se manifestou quando ele tinha apenas três dias de vida e o acompanhou ao longo de toda a sua jornada.

Na época do seu nascimento, a então pequena São João da Boa Vista não contava com recursos médicos adequados para lidar com casos como o dele. Por isso, Cito foi tratado erroneamente com medicamentos para sífilis, o que acabou provocando danos irreversíveis. Ao longo de sua vida, ele sempre precisou de cuidados especiais, e a família enfrentou esse desafio com coragem, amor e dedicação, proporcionando todo o suporte necessário para seu bem-estar. Cito faleceu em 15 de outubro de 2013, aos 64 anos, deixando um legado de força e resistência que marcou profundamente a vida de seus pais, irmãos e de todos que o conheceram.

Cito, o primeiro filho
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Seu Jorge, concentrado, equilibra o primogênito Cito em sua mão, diante da Igreja Perpétuo Socorro, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo.
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As mudanças

Com a dificuldade em cuidar de Cito, o casal iniciou sua jornada em busca de melhores condições de vida. Primeiramente, tentaram a sorte em Vargem Grande do Sul, mas a relojoaria de Jorge não prosperou, assim como fôra em São João da Boa Vista. Sem conseguir pagar a dívida com o proprietário dos imóveis onde alugavam tanto a casa quanto a relojoaria, ele acabou aceitando um trabalho para seu credor na capital paulista, com o objetivo de saldar essa obrigação.

Após quitar a dívida, retornaram a Vargem Grande, onde ele tentou recomeçar a relojoaria. Dona Ica, além das difíceis memórias da vida na capital — onde viveram em uma casa sem água encanada ou energia elétrica e com um chuveiro construído com uma lata cheia de furos do lado de fora da casa —, e apesar de temer uma nova gravidez, trouxe Sérgio em seu ventre.

Ainda grávida, Jorge recebeu um inesperado convite para comandar o programa de calouros aos domingos na Rádio Clube de Mococa. A mudança para a nova cidade aconteceu rapidamente, e foi lá que Jorge formou a banda "Jorginho e seu Regional". Em Mococa, Sérgio nasceu em 23 de dezembro de 1952.

Embora o salário da rádio fosse modesto, somado ao que recebia com a relojoaria recém-aberta, Jorge começou a sonhar em construir sua própria casa ao saber de um terreno à venda. Com a ajuda do irmão de Ica, tio Zé, começaram a construção, mesmo sem experiência no assunto.

No entanto, por surpresa, o dono do bar local onde Jorge e seus amigos se reuniam para ensaiar propôs uma troca: a simples casa recém construída pelo bar, que tinha um cômodo nos fundos que poderia ser transformado em lar, embora fosse necessário dividir o banheiro, e a cozinha, com os frequentadores. Com Jorge e Ica no comando, o local logo se tornou ponto de encontro da boemia da cidade, recebendo o apelido de "Boate Astral".

Porém, não demorou muito para perceberem que a vida pessoal e o trabalho estavam se misturando de forma insustentável. Foi nesse período que Odair nasceu, em 24 de outubro de 1956.

Com o desejo de separar a vida pessoal do trabalho, Jorge tentou construir algo mais estável. No entanto, o tempo dedicado ao bar e à obra foi insuficiente para evitar dificuldades financeiras, e os custos da construção superaram suas expectativas. Ao tentar vender o sobrado para quitar as dívidas, não obteve o valor desejado e, por orgulho, acabou aceitando uma oferta ainda mais baixa de um amigo. Com a nova realidade a família se viu forçada a um novo recomeço. Ribeirão Preto foi o destino.

As mudanças
Foto de Seu Jorge e músicos
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Seu Jorge e seu grupo musical, em Mococa.

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Ribeirão Preto

A mudança para Ribeirão Preto e o início da carreira de Jorge como construtor de casas, que seria interrompida pelo talento musical dos filhos.

Após se mudarem para Ribeirão Preto, o único trabalho que Jorge conseguiu, foi o de oferecer conserto para os relógios que não tinham conserto. Todavia, como a casa que podiam pagar o aluguel era em condições muito precárias, eles foram tentar a vida em São João da Boa Vista, novamente. Porém, com o fracasso da tentativa, resolveram retornar à Ribeirão Preto.

Porém, algo aconteceria que mudaria o destino da família. Nesse período, sua mãe, Francesca, faleceu e, apesar de a herança ter sido dividida entre seus oito irmãos, o sonho da casa própria reapareceu. Diferente das tentativas anteriores, desta vez, quando a obra da casa foi finalmente concluída, um estranho fez-lhe uma proposta inesperada de compra.

Jorge, ciente de quanto havia investido, pediu o triplo do valor gasto na construção. Surpreendentemente, o homem aceitou. Com esse recurso, ele começou a comprar terrenos e passou a construir outras casas, atuando como arquiteto, engenheiro e mestre de obras. No total, ele ergueu cinco, todas construídas com suas próprias mãos e dois pedreiros.

No entanto, quando os filhos começaram a tocar violão com ele, esse início de um futuro seguro como construtor foi trocado por um sonho musical.

Ribeirão Preto

Os Filhos Sérgio e Odair

Dona Ica tinha oito irmãos e Nico era um deles. Certo dia, ao visitá-la, Nico pegou o violão que sempre estava por lá e tocou dois acordes, acompanhando uma canção simples para que ela cantasse. Sérgio, curioso e ansioso por aprender, pediu ao tio que o ensinasse, pois seu pai costumava intimidá-lo. Depois de aprender os primeiros acordes, Sérgio começou a passar as tardes atrás da mãe para que ela cantasse e ele pudesse praticar.

Naquela mesma semana, Seu Jorge — que, entre as construções e o trabalho na relojoaria, ainda encontrava tempo para as rodas de choro locais — voltou para casa e se deparou com a esposa e o filho envolvidos em uma lida musical. Surpreso, perguntou: — “Você quer aprender a tocar isso de verdade?”. Diante do olhar brilhante do menino e da resposta afirmativa, pegou o bandolim e logo começou a ensinar-lhe os primeiros acordes.

No dia seguinte, Odair, sempre ansioso para imitar o irmão mais velho, aproximou-se e disse: “Eu também quero!”. “Quer? Então, senta aqui ao lado do seu irmão.” E foi assim que começou a história do lendário Duo Assad; que se tornaria um dos maiores duos de violão da história, aclamado em todo o mundo.

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Os Filhos Sérgio e Odair
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Rio de Janeiro

A decisão da família de se mudar para o Rio de Janeiro para que os filhos estudassem com a professora Monina Távora, abandonando tudo por uma oportunidade musical.

Pouco antes da mudança para o Rio de Janeiro, a família vivia, pela primeira vez, uma condição financeira que lhes permitia sorrir. No entanto, quando Jorge soube da existência da professora Monina Távora (ex-aluna do grande André Segovia), no Rio, e recebeu dela a proposta afirmativa de que daria aulas para os "Meninos Gênios", tudo viraria de ponta-cabeças.

A reação dos amigos foi de completa comoção. Para eles, a ideia parecia absurda: "Onde já se viu abandonar tudo para se arriscar em um lugar desconhecido, depois de tanto esforço?", "Tudo isso por causa do talento dos filhos?", "Futuro promissor? Isso é loucura!"

Embora as palavras soassem lógicas, Jorge estava completamente absorvido pela oportunidade. Ica, com sua intuição aguçada, também sentia que algo especial estava no ar. Em seu coração, ouvia o sussurro de que aquela, de fato, seria a decisão certa a ser tomada.

Juntos, decidiram confiar no destino. Abandonaram tudo e embarcaram em uma viagem, de fé. Com Sérgio, Odair, Cito e Mariângela (Badi), que estava com dois anos de idade, a família começaria uma nova fase de dificuldades e desafios. Mas, tudo valeria a pena.

Rio de Janeiro

Campo Grande, RJ

Fora de São Paulo, a família enfrentou grandes desafios de adaptação. Impossibilitados de morar perto da professora Monina Távora, em Botafogo, devido às limitações financeiras, Sérgio e Odair precisavam percorrer longas distâncias em transportes públicos, tanto para as aulas de música quanto para o colégio Anglo-Americano, onde conseguiram bolsas de estudo graças ao apoio do jornalista carioca Mazzo. Por uma série de razões, ele se tornou o primeiro empresário dos irmãos.

Inicialmente, a família viveu em Brás de Pina, depois mudou-se para São João de Meriti e, por fim, estabeleceu-se em Campo Grande, onde moraram em quatro endereços diferentes ao longo de dez anos. Durante esse período, a vida da família passou por diversas transformações. Seu Jorge, além de abrir e fechar relojoarias, aventurou-se em um novo empreendimento: a "Fornituras Marreta", especializada na venda de peças para relógios. Com essas atividades, a família finalmente começou a alcançar certa estabilidade financeira outra vez. Cito, ainda lidando com crises convulsivas, mantinha Dona Ica ocupada com seus cuidados. Enquanto isso, Sérgio e Odair davam os primeiros passos em suas carreiras musicais, sendo convidados para um intercâmbio nos Estados Unidos — Odair, com 13 anos, e Sérgio, prestes a completar 17. Esse foi apenas o começo da trajetória dos “Mini Gênios”, como ficaram conhecidos à época.

Apesar das dificuldades, Seu Jorge e Dona Ica sempre mantiveram o foco em garantir o bem-estar da família, seguindo com determinação. Quando a caçula, Badi, aos quatro anos, começou a mostrar seu talento musical, eles perceberam que o dom para as artes corria mesmo nas veias da família.

Campo Grande, RJ
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As amizades e os netos

A família construiu amizades duradouras em Campo Grande. Os domingos festivos na casa de Melo e Moema tornaram-se tradição, criando laços que perdurariam por toda a vida. Quando encontraram um local adequado para a relojoaria "residencial", Seu Jorge deixou a "Fornituras Marreta" de lado e fundou a "Relojoaria Marreta". Com o sucesso do negócio, contratou o amigo Melo para gerenciar a loja dentro de sua casa e abriu uma filial no coração de Campo Grande. O primeiro ponto de venda funcionava de forma improvisada dentro do Bar Canadá, onde ele se acomodava num balcão estreito com suas ferramentas. No entanto, com a crescente demanda, em menos de um ano, conseguiu expandir para um espaço maior.

Em 9 de fevereiro de 1978, Sérgio e sua recém-esposa, Célia, receberam a primeira filha, Clarice. Pouco depois, em 30 de junho de 1979, Odair, que morava com Priscila, teve Carolina. Ambas as filhas logo demonstraram talento musical também. Clarice, em especial, se tornaria, anos mais tarde, uma das maiores representantes de sua geração. Depois vieram Rodrigo, irmão de Clarice, e Gustavo, irmão de Carolina.

Com os filhos começando a se destacar internacionalmente e Badi prestes a iniciar o segundo grau, Seu Jorge sentiu que sua missão de apoiar os filhos estava cumprida. Agora, desejava proporcionar à caçula uma vida mais tranquila, longe da agitação do centro urbano carioca. Convencido disso, persuadiu Dona Ica a retornar ao interior paulista. Em São João da Boa Vista, depois de 29 mudanças de residência, estabeleceram-se naquela que seria a última morada do casal. Uma nova fase de suas vidas começaria ali.

As amizades e os netos
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Bodas de ouro

Bodas de ouro
Bodas de ouro

Seu Jorge e Dona Ica, durante a comemoração das Bodas de Ouro

Quando o casal completou 50 anos de casamento, em julho de 1997, comemoraram com uma grande reunião entre familiares e amigos. Essa celebração já refletia o constante desafio logístico de reunir a família, pois, com exceção de Cito, que sempre viveu ao lado deles, todos os filhos e netos moravam em lugares distintos.

Naquela época, Sérgio e Odair já haviam se mudado para a Europa, onde viviam com suas atuais esposas. Ambos eram pais novamente: Odair, com a belga Fá, teve a Camille, enquanto Sérgio, com a francesa Brigitte, teve Julia. Badi, por sua vez, morava na capital paulista com Rodolfo e já estava inserida no cenário internacional, celebrando o lançamento de seu terceiro CD, enquanto Sérgio e Odair comemoravam 17 anos de carreira. Três anos antes das Bodas de Ouro, Sérgio ficou viúvo, mas, ao chegar à festa, trouxe sua nova namorada e futura esposa, a astrofísica Angela Olinto.

Na mesma época, Seu Jorge já havia se aposentado como relojoeiro e, de forma inesperada, foi convidado a lecionar violão e bandolim na escola da prefeitura de São João da Boa Vista, cargo que ocupou por sete anos, até sua segunda aposentadoria, agora como professor.

A festa não foi apenas uma comemoração, mas também uma homenagem ao legado musical da família e às conquistas pessoais dos filhos. Com alegria e orgulho, Seu Jorge e Dona Ica refletiam sobre cinco décadas juntos, rodeados de amor.

Obs.: Ao fundo, à direita, pode-se ver o ator global Rogério Cardoso, grande amigo da família desde a juventude.

Foto tirada na festa das Bodas de Ouro. Da esquerda para a direita, em pé: Odair, Fá, Ângela, Sérgio, Carolina, Dona Ica, Seu Jorge, Clarice e Cito. Agachados: Gustavo, Badi, Rodrigo e Camille.
Depressão

Depressão

Os presentes das Bodas de Ouro foram simbólicos e cheios de carinho: Dona Ica recebeu louças novas, enquanto Seu Jorge um bandolim. Ela redecoraria a cozinha e aprenderia novas receitas para preparar para a família, e ele tocaria agora com seus novos alunos.

Naquele momento festivo, ninguém poderia imaginar que ele chegaria a se sentir desanimado. Contudo, após a aposentadoria e a partida de seus últimos pupilos — Josiane e Daniel, que foram estudar no Conservatório de Tatuí —, aos 76 anos, ele perdeu o entusiasmo por tudo. Chegou a retirar todas as cordas do bandolim, prometendo que nunca mais o tocaria.

Mas o destino tinha outros planos. Pouco tempo depois, um jovem chamado Micael Chaves apareceu à sua porta. Com apenas doze anos, o rapaz conseguiu reacender a chama da música em seu coração. Durante seis anos, Micael sentou-se diariamente ao seu lado, tornando-se o aluno com quem ele passou mais tempo ensinando. Esse novo ânimo foi tão revigorante que, em 2000, Seu Jorge, ao lado de Dona Ica, aceitou embarcar em uma nova e emocionante aventura: integrar o show da Família Assad.

(Nota: Em 21 de abril de 2022, Micael fundaria, em sua homenagem, o Clube do Choro Jorge Assad, em São João da Boa Vista)

Família Assad, o show

A jornada familiar teve início com a gravação de um show no Teatro de Táboas, em São João da Boa Vista, no Natal de 2001. Essa apresentação marcaria o começo de uma série de encontros familiares no palco: Seu Jorge, Dona Ica, os filhos Sérgio, Odair e Badi, e os netos Clarice, Carolina e Rodrigo. A performance foi registrada e transformada em um curta-metragem intitulado Suite Assad, dirigido pelo cineasta Joel Pizzini. Em 2004, a família iniciou uma turnê pelos Estados Unidos, passando por grandes palcos. A estreia aconteceu no Templo de Dendur, dentro do Metropolitan Museum, em Nova York. O final da turnê foi marcado por uma emocionante celebração, em cena, do aniversário de 80 anos de Seu Jorge. Após essa turnê, a família viajou para a Europa para registrar o CD e DVD “Um Momento de Puro Amor”, filmado ao vivo no Palais des Beaux-Arts, em Bruxelas, e lançado pela gravadora GHA, em 2006.

O projeto foi um grande sucesso, consolidando ainda mais o legado musical da família. Em 2007, na ocasião do lançamento do DVD no Brasil, a Família Assad se apresentou no Teatro do Ibirapuera, em São Paulo, seguido de uma apresentação no Canecão, no Rio de Janeiro, apenas um mês após o nascimento de Sofia, filha de Badi com Dimitri.

Seu Jorge e Dona Ica em momento de duo no palco
Seu Jorge e Dona Ica em momento de duo no palco
Ensaio fotográfico para a turnê da família
Ensaio fotográfico para a turnê da família
Comemoração dos 80 anos de Seu Jorge, durante a turnê da Família Assad pelos Estados Unidos.
Comemoração dos 80 anos de Seu Jorge, durante a turnê da Família Assad pelos Estados Unidos.
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A Billie Holiday brasileira

A Billie Holiday brasileira

Ensaio fotográfico de Dona Ica para seu disco ‘Por toda a minha vida.

A Billie Holiday brasileira
A Billie Holiday brasileira

Antes da estreia oficial da turnê americana, a família fez uma apresentação em New Paltz, uma pequena cidade próxima a Nova York. O objetivo era amenizar a ansiedade de todos, afinal, não é todo dia que se estreia no coração do Central Park, em um museu tão prestigiado. Optar por um local menor parecia ser uma maneira de aliviar o impacto para Seu Jorge e Dona Ica, além de proporcionar uma experiência mais tranquila para Carolina e Rodrigo, que cantariam pela primeira vez fora do Brasil, também. Naquele momento, Clarice já morava nos Estados Unidos, onde se formara em composição pela University of Michigan School of Music.

No entanto, o que ninguém esperava era que, na plateia, se sentasse o renomado violoncelista Yo-Yo Ma, que já havia gravado e excursionado algumas vezes com o Duo Assad. Seu Jorge, visivelmente nervoso, observava Dona Ica, que, de olhos fechados, irradiava serenidade. Ela seria, mais tarde, aclamada pelo LA Times como "A Billie Holiday Brasileira”.

Ao final da apresentação, Yo-Yo Ma foi até o camarim, beijou as mãos de Dona Ica e agradeceu a ela e a Seu Jorge por terem criado uma família musicalmente tão impressionante quanto harmoniosa.

Bodas de Diamante

Bodas de Diamante

Em 2007, pouco antes do lançamento brasileiro do DVD "Um Momento de Puro Amor", a família se reuniu mais uma vez, agora para celebrar os 60 anos de casamento de Seu Jorge e Dona Ica. A foto oficial dessa celebração contou com a presença de mais membros da família. Da esquerda para a direita: Odair, Fá, Angela, Sérgio, Carolina, Clarice, Cito, Dona Ica, Seu Jorge, Gustavo, Camille, Dimitri, Badi, a bebê Sofia, Rodrigo, e Hélène (filha da Fá), acompanhada de seu marido, Beto.

Amigos de diversas épocas também marcaram presença. A festa foi repleta de música ao vivo e boas recordações. Após o corte do bolo, uma surpresa arrebatadora foi preparada para Dona Ica e os convidados: seus filhos entregaram-lhe seu próprio CD "Por Toda a Minha Vida", gravado no ano anterior, com a participação de músicos profissionais, além dos filhos e do marido. A emoção foi grande ao ver os convidados pedindo autógrafos e levando consigo uma lembrança tão especial.

Bodas de Diamante

Da esquerda para a direita: Marcos Bailão, Roberta Valente, Alessandro Penezzi, Daniel Pereira.

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Seu Jorge

Seu Jorge

19.04.1924 - 28.05.2011

Na tarde de 15 de julho de 2011, Seu Jorge desceu as escadas que ligavam seu quarto à sala e pediu um copo de água à esposa. Quando ela se aproximou, ele perdeu o equilíbrio, bateu a cabeça em seu ombro, caiu em seus braços e, vítima de um ataque cardíaco fulminante, partiu. Faleceu ali, olhando profundamente nos olhos da mulher que mais amou na vida.

Dona Ica

31.07.1930 - 07.08.2024.

O Festival Assad, um dos maiores e mais importantes festivais de música instrumental do Brasil, ocorre anualmente desde 2012, no Teatro Municipal de São João da Boa Vista. Criado em homenagem à Família Assad, o evento preparou uma grande celebração em 2024, para marcar os 100 anos de nascimento de Seu Jorge. A família, então, se reuniria novamente para replicar a foto histórica das Bodas de Ouro e Diamante. Quando planejaram, não sabiam que essa seria a última vez que todos se reuniriam com Dona Ica.

No mesmo mês da comemoração do centenário, a família toda veio, mais uma vez, de diferentes cidades do mundo para a celebração. Todavia, Dona Ica sofreu um AVC no dia 09 de Julho, poucos dias antes de todos começarem a chegar e na noite do dia 07 de agosto, apenas uma semana após o Festival terminar, ela partiu. Mas a imagem que ficará dos seus últimos dias será aquela de quando, mesmo com uma sonda nasogástrica, ela cantou; mostrando mais uma vez como a família e a arte foram imprescindíveis para a sua longa e bela existência.

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